E se você fosse eu?

 


Imagine que você está nascendo neste exato instante… Você não sabe o que é sexo. Não tem interesse em política. Nunca extraiu raiz quadrada. Tudo que você deseja é engolir o universo inteiro numa primeira golfada de vida e gritar: liberdade! Não importa onde, nem quando ou porquê.

Em seguida, o turbilhão do tempo nos arrasta para dentro de um mundo novo e nossa primeira sensação de prazer é apreendida com leite materno. O primeiro abraço nos apresenta ao amor eterno. Ponto final, o paraíso acaba aqui.

Frio, banhos, roupas, gente apertando, beliscando, rindo. Fralda resfriada, leite de pacote. Leite de pacote! Gritos desconsiderados à noite, braços e pernas esticando nossos ossos. A roda do tempo não para.

Aprendemos a nos arrastar, engatinhar, caminhar, sempre em busca do amor no peito, do paraíso perdido. Nossa mãe quase não tem mais tempo para aquele abraço que nos convenceu a viver. Somos cada vez mais um pedaço de gente num corpo crescendo, tocado por mãos estranhas que lembram caixas de leite.

Mal aprendemos a somar as letras na escola e descobrimos que meninos são diferentes de meninas. E agora, conto para professora sobre os toques que recebo no silêncio ensurdecedor das madrugadas, que muito se parecem com o que ela chamou de sexo? Mamãe chora quando tento falar disso. Será que o mundo vai me aceitar?

Ainda não cresci o bastante para saber a diferença entre política e álgebra. Não sei se dá para extrair raiz quadrada do PL 1904. Mas dizem na igreja, que a culpa da minha existência cresce no meu ventre.

Que culpa tenho de querer reencontrar aquele primeiro abraço, que me ensinou o que a vida tem de melhor?

Eu só queria respirar de novo, a liberdade do universo.

Claudemir Casarin, um psicólogo

Atendimento on line ou a domicílio.

Você acredita que se possa comprar felicidade? Não são todas as pessoas, mas há um numero bem grande que sonha ficar rica, do ponto de vista monetário. Acreditam que o dinheiro comprará para elas, o que não enxergam já possuir, amor. Muitas acabam por se endividar, na ânsia, de ao menos, parecerem ricas.Tenho um amigo que me aconselhou, quando fui comprar um Siena novo, que seria melhor para a minha imagem profissional, possuir um Corolla, com 10 anos de uso. Sinto que ele não entende meu prazer, quando me vê indo de bicicleta para o consultório. Fico triste, por ele. Alias, nem tenho mais consultório, atendo em casa, a domicílio, nas areias da praia, nos jardins da Alameda. Curioso como as pessoas que enfatizam o lado material da vida, embora sejam sistematicamente deprimidas, raramente se dispõem a fazer psicoterapia. De modo geral, perdidas no mundo das aparências, tendem a se entupir de remédios, colecionar cirurgias plasticas, abusar do álcool e comprar, comprar, comprar muito. Não é fácil tratá-las. Me lembro de uma paciente, que parecia mais interessada em publicar o psicoterapeuta nas redes sociais, que propriamente, conhecer a si mesma. Sempre lembro dela, quando alguém me apresenta como "meu analista". (...) Relendo o que escrevi até o ponto anterior, me dou conta que pode parecer que estou falando mal, desdenhando, das pessoas que, por alguma insegurança afetiva, investem a vida, na acumulação de riquezas materiais. Não é essa a minha intenção, não é assim que penso ou trabalho. Na verdade, nunca conheci uma pessoa supérflua, vazia, sem amor pra dar e receber. Taxar as pessoas materialistas, ou melhor, inseguras que buscam nas coisas que podem comprar, a segurança que só as relações afetivas podem nos proporcionar, é um baita preconceito. Meu trabalho, como psicoterapeuta, é conhecer as pessoas que me procuram, antes mesmo delas se reconhecerem. E quando se conhece, profundamente, uma pessoa, desvela-se sempre toda beleza humana. Todos nós temos valor, valor próprio, insubstituível e imensurável. Existe um tesouro relacional dentro de cada pessoa, encontrar essas riquezas e expandi-las para o mundo é a razão de se ser e de se fazer psicoterapia.

Claudemir Casarin - psicólogo/socionomista